terça-feira, 24 de março de 2009

Writing is believing

We should be able
to dance our troubles
and sing our sins
like some angels do

Are you this kind of fool too?

quinta-feira, 19 de março de 2009

A Câmara de Eco

1

Tenho para oferecer-te
muita podridão muitas palavras
(infelizes) e
muito silêncio (entre as tuas pernas
o sonho é quente)
porque te trago na alma
en la sangre dans
le sang in
the blood trago-te
gritos Nem tu nem eu ainda
acre
ditamos
nisso (sans rancune?)
mas a
mamo-nos l o u c a m e n t e
(entre
as tuas pernas
quase que consigo suicidar-me
só de sonhar-te) aí
onde a tua infância é o meu veto
mais des
esperado pois
que te temo te digo te deixo aqui
o meu poema mais louco aquele
que tudo – mas tudo – contém menos
certa
mente o principal

2

mulher de palavras
com que sonham meus poemas?
senão c'us teus olhos o teu
olhar e do outro lado das palavras
c'us teus seios as tuas ná
degas o teu pú
bis
sem os quais teu amor meu amor ape
nas estaria nos meus sonhos nos
meus pobres cadernos eu te amo como
quem ma
ta como quem mo
rre como quem se
mata e se comove e como
quem apenas escreve cu seu sangue
acre
dita mulher de silêncio
todos
os meus versos sonham
cus teus olhos
e sem o teu sorriso as minhas palavras
se
riam apenas labaredas lamechas
e as minhas mãos
apenas mãos a
penas
facas pregos pedras

3

estas mãos em vez de mãos
(são) facas estas palavras
em vez de palavras (são) pedras
quando a solidão aperta
as palavras enchem-nos a boca
de pregos e louco é este sangue
que derramo no caderno
em que morrerei por vós
traído e abandonado

4

femme ma femme je voudrai t'écrire
dans ta bouche me lire
parce-que tes yeux me hantent
et parce-que dans l'amour
tout peut nous arriver dans ce poème
tout peut manquer sauf l'amour
cet oiseau d'eau dans l'os du mot mort
(ce sens du sang de cent mille malheurs)
et ce n'est pas la peine de me le dire
je sais ces verités sont maldites
l'ortographe est sans doute mauvaise
mais l'amour mon amour ma vie
ma poupée parfois s'écrit mâle-heurt

5

Não sei se é verdade mas escrevo
Porque isso é inútil

E porque isso é inútil vou viver
Até rebentar como um rato

Sim
Mesmo pondo em risco a própria razão

Amarei lentamente o que os outros destroem
Demasiado depressa

Agora que o meu desejo de escrever
É irremediável e definitivo

6

escrevo
porque
isso é
impossível
porque
a poesia
é sempre
outra coisa
porque
a realidade
não cabe
em nenhuma
imagem
a morte
mascara
outra(s)
mentira(s)

7

escrever e existir são uma mesma coisa
muito frágil
mente humana
a poesia é
precisa
mente a consciência dessa frágil
idade impossível

8

As palavras que escrevo Não dizem exactamente
O que quero Nem eu sei exactamente Talvez
escrever Sem palavras que (macacos)
Me mordam se eu sei que Imagens
Não Quero Ver Quanto Sofro
a lutar com o silêncio
para que A morte No fim nem vale
a pena Falar daquilo Que nunca compreenderemos

9

Todos os poemas se pagam
(se apagam) com a vida
mais tarde ou mais cedo
todos
sem excepção
serão ESQUECIDOS
por isso não saias para a luz
a beleza está toda aqui
neste silêncio neste sonho onde
nenhuma palavra é (in)diferente
Vê lá se percebes:
daqui ninguém escapa
sem ter escrito alguma coisa
com
o seu próprio sangue.

10

Não só o teu amor, mas também o meu.
Não somente, sim, mas também o céu,
O eco do céu e do mar no nosso quarto.
Não apenas o nosso amor mas também
Os nossos corpos, juntos um do outro:
Tu no meio dos teus livros, a sonhar,
E eu aqui fechado como um segredo
Que só tu podes (dar a) conhecer.

terça-feira, 10 de março de 2009

Diário mínimo

16 de Janeiro

Toda a noite, do rumor
sujo que subia da cidade,
esperei algo.

Que o poema se ocultasse
noutro poema?
Que a noite se abrisse à noite
e o poeta ao homem?

Amar isto.

22 de Janeiro

Por vezes, ouço no vento
algo tão frágil, tão infantil,
como a voz de um amigo.

E saio para a rua,
de braços abertos: pronto
a receber no peito
a bala da solidão.

30 de Janeiro

Invadido por um sono branco,
deito-me disposto a lutar.

Alguém me esmagou as asas

E sei que o vou pagar caro.

2 de Fevereiro

Cheio de frio,
invento tudo.

Amor como pão
para a boca.

E uma amiga,
quando necessário.

8 de Fevereiro

Da primitiva vontade
sobrou apenas

esta teimosia em redimir
o cansaço

numa transparência tão perfeita
que me cega.

15 de Fevereiro

São quase sete horas.
Ao longe, uma mancha de sangue
anuncia a noite.

Enquanto um homem
permite que a memória o atravesse
como um veneno letal,

alguns pássaros,
lá longe,
levam para longe o céu.

22 de Fevereiro

O céu parece irremediavelmente
Separado do poema.

Tentado a morrer,
um homem escreve:

«Leitor,

se inventares janelas
para esta parede branca,

encontrarás do outro lado
o amor.»

1 de Março

Tanto silêncio

pode querer dizer uma coisa.

Não a digas.

Mas não te cales.

Se a tua culpa é infinita,
a dos outros também.


3 de Março

Quase um poema.
Quase sem palavras.

7 de Março

O obsceno pássaro da noite
não é uma imagem vã.

E o silêncio,
no fundo,
é a pele
de todos os poemas.

9 de Março

Casa de ser,
mas não de estar,
um poema é sempre
do sexo oposto

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Arte poética

Se não te iluminar, não é poema.
Só é poesia, se te tocar.
Caso contrário, não passa...
De um amontoado de palavras.

***

O que eu digo
Desdiz tu agora.
Só há poesia
Se houver diálogo.

***

Todo e qualquer poema
Corre o perigo de se apagar.
Sem leitores, não há poesia.

***

Todas as palavras são poucas
Para calar a dor
De não conseguir dizer o essencial.

Aforismo

Todo o poeta
É um «ladrão de fogo».
Um rebelde alado
Que invariavelmente perde as asas
Em pleno voo.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Errata

Onde me lê, leia-se.

Three songs

1. Now is the moment

No time to start feeling sad
This is not the moment
It’s time to get up
Get dressed and hit the road

The thing to remember now
Is that we are bond together
The wind rises and the rain begins to poor
But happiness is only a few miles away

Just listen to the music of the sea
The wind is saying the same as me:
I wasn’t the right person for you before
But I am now, I am now.

2. Silence is painful!

All the windows are open
All the signs are there to see
Would you listen to me please?

I’m so lonely
And you are so beautiful
Can you hear me?

Last night I dreamt of you
Do you remember what I did?
You were as lost as me

I can help you if you can help me
I love the way you have no shame
I hate the way you ignore me

Please listen to my song
I’m so futile
and you are so beautiful

All the windows are open now
All the signs are there to see
Would you listen to me please?

I’m so futile
And you so wonderful
Can you remember me?

3. Please listen

Baby, please listen
All my words are waiting
For you and you alone.

I promise: this silly song
Can take you back to your old dreams
If you want to.

Please, listen baby,
My pain will protect you
From yourself.

Choose carefully the moment:
Every minute of your life
Can earn you some love.

Listen, baby, please
All these words are waiting
For you and you alone.

Cena real

Com os olhos ocultos por um grande chapéu verde, o rei guarda silêncio.
A côrte à sua volta tem medo.
«Na floresta só há algumas árvores», diz por fim o rei.
E todos fazem que sim com a cabeça.
«Assim como numa floresta», prossegue o monarca, «só se conseguem ver algumas árvores, de todos os corações do meu reino, só conheço verdadeiramente dois ou três».
«Só algumas árvores, só alguns reis», pensa o general, em grande silêncio, enquanto faz que sim com a cabeça.
«Nada como uma floresta para ter ideias penetrantes», proclama pomposamente a rainha, acrescentando com um suspiro: «A poesia está nos pormenores e a sua necessidade em toda a parte».

Homenagem ao teu sorriso

Tudo acontece na vida por acaso. Mesmo o amor.
Tudo no amor sucede assim: como um novo verso.
Por vezes, escrevo só para te imaginar a sorrir.

Passagem de nível

O voo alucinado das moscas
enche-me de melancolia.
Lá fora, armado em poeta,
um cão ladra à lua.

Onde quer que estejas,
ouve o que te digo:
«Tudo no mundo é vão,
Menos o que sinto por ti.»

O comboio passou
e voltou a passar,
mas a culpa não é tua,
é de quem a apanhar.

Algumas cidades

NEW YORK

We are all
broken children
on an adult mission.

***

LOS ANGELES

No busco nada.
Hasta que vuelva el angel
mi cuerpo se quederá
sin prestimo.


***

MADRID

En un mar colectivo
un hombre bebe su sangre.
Su duda es permanente:
no le queda mucho tiempo e lo sabe.

***

GRANADA

Miro por la ventanilla
una foto de Granada.
Inspirado por el silencio
y sus misteriosas profundidades

***

PARIS
Entre deux vers
Pardon
Entre deux verts
Un arbre hesite.

***

LISBOA

Já é tão tarde
e ainda não encontrei o espelho
onde gostaria de me olhar.

***

BUENOS AIRES

Azul profundo.
Luz de Alcohol.
Contratango.

***

MORA

A passagen do Inverno
Deixou uma ferida verde
à volta da minha casa.

***

OEIRAS

Os pássaros escrevem no céu
Poemas que eu consigo ler.

***

AMSTERDAM

At fifty-nine
I'm my father now
And I will soon become
my grand-father too.

Soneto doente

O rugido do vento
É uma voz demente
Ou a doença está
Na raiva que sinto?

Música agora, não
Nem mais palavras, please
Prefiro pedras neste momento
Ou pregos

Pensamentos mais duros
Enterrados na carne
Porque à minha volta

Só vejo gente
E são as pessoas
Que me põem doente

Por causa das coisas

Ele há coisas... do diabo.
Coisas levadas da breca,
E coisas sem explicação.
Como esta canção, por exemplo.

Ele há coisas e loisas.
E também há coisos.
Mas há mais coisas que coisos,
Parece.

Há coisas que sabemos perfeitamente
E outras que nem sequer sonhamos.
Há coisas que não conseguimos ver
E coisas que nos vêem

Melhor do que nós as vemos a elas.
E também há coisas verdes e coisas roxas.
Coisas amarelas e pretas.
Há muitas coisas pretas.

E muitas coisas vivas.
Mas há também coisas mortas.
Coisas realmente assustadoras.
Coisas que preferimos não ver.

Há coisas e loisas. E loiras.
Há coisas loiras
Com pernas para fugir de nós
(mas preferimos as morenas).

Há coisas no mar e coisas no céu.
Há coisas em terra.
Há coisas por todo o lado.
E coisas que só os pássaros ouvem.

E quando se tem uma coisa
Atravessada na garganta,
Ou na paisagem,
O melhor mesmo é cantar.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Un ange passe

Sans crier gare,
Crier. Haut
et fort.

Puis,
tout de suite,
Se taire.

Comme par miracle,
Retrouver l’ange qui passe
À chaque fois.

No silêncio da noite

Dentro e fora de casa,
No silêncio da noite
Anda o meu irmão

Sem medo
E sem alma.

Eterna,
A sua ausência
Devora a cidade.
E tudo o que escrevo.

Slow motion walk

Escondido num verso,
Um pássaro aguarda,
Que um outro verso
Lhe devolva a liberdade.

Escrito com sangue

Todos os poemas se pagam
(se apagam) com a vida mais tarde
ou mais cedo Todos serão esquecidos

Não saias para a luz A beleza
está toda aqui neste silêncio Neste sonho
onde nenhuma palavra é (in)diferente

Vê lá se percebes Daqui ninguém escapa
sem ter escrito alguma coisa
com o seu próprio sangue.

Claro-Escuro

Claro que o nosso lugar
Não é neste mundo.
Por isso morremos.

Claro que é por isso
Que escrevemos.
Claro, claro.

Toda a vida afinal
Se resume a isto.
Claro-escuro escuro-claro.

LE VOYAGE MEXICAIN

(Poemas inspirados por algumas fotografias de Bernard Plossu)

1


O rapaz que parece uma velha
É um anjo transformado em bruxa.

És tu e sou eu e um aviso:
Se não levarmos a sério os nossos sonhos, eles vingam-se.

2

A recém-casada
vai sempre atrás.
De um homem,
De um sonho.

Mas o homem
Só vai à frente,
Para se perder
Primeiro.

A vida é uma corrida
Sem vencedores.

3

Uns partem,
Outros ficam,
Mas a vida tem um preço,
Que ninguém consegue pagar.

4

De vez em quando,
Um anjo desce à Terra
Para nos arrancar um sorriso.

Os anjos precisam disso,
Como nós precisamos de dinheiro.
5

Mal saiu do cemitério, a viúva
Foi a correr casar com o diabo.

Como muitos de nós,
Prefere uma vida de merda,
A vida nenhuma.

6

Os teus melhores amigos
São três.

Mas tens que os procurar muito bem.

7

Conheço este silêncio
De cor e salteado.

Mas o que este poema sabe
Já o esqueci.

8

Uma mesa, sol e o mar ao fundo.

E a vocês, não vos apetece escrever?

Poema para a Raquel

Não só o teu amor, mas também o meu.
Não somente, sim, mas também o céu,
O eco do céu e do mar no nosso quarto.
Não apenas o nosso amor mas também
Os nossos corpos, juntos um do outro:
Tu no meio dos teus livros, a sonhar,
E eu aqui fechado como um segredo
Que só tu podes (dar a) conhecer.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Poema do caderno

1

Abro o caderno
E o caderno abre-me
(duas grandes bocas
para te devorar).

Abre-se o caderno
A um livro por vir.
Como uma ferida
Na pele do silêncio.

2

Abre-se o caderno.
Mas o coração não se abre.
A noite cresce.
Sim, cresce.

Como um incêndio
(mas frio)
dentro do corpo.
Não é uma imagem.