1
Tenho para oferecer-te 
muita podridão muitas palavras 
           (infelizes) e 
muito silêncio (entre as tuas pernas
            o sonho é quente)
porque te trago na alma
en la sangre dans 
le sang in 
                the blood trago-te 
     gritos Nem tu nem eu ainda 
acre
        ditamos 
nisso (sans rancune?) 
mas a 
          mamo-nos l o u c a m e n t e 
(entre 
           as tuas pernas
quase que consigo suicidar-me 
                        só de sonhar-te) aí                     
onde a tua infância é o meu veto 
mais des
               esperado pois 
que te temo te digo te deixo aqui 
o meu poema mais louco aquele 
que tudo – mas tudo – contém menos 
certa
         mente o principal
2
mulher de palavras
com que sonham meus poemas?
senão c'us teus olhos o teu
olhar e do outro lado das palavras
c'us teus seios as tuas ná
degas o teu pú
                          bis
sem os quais teu amor meu amor ape
nas estaria nos meus sonhos nos
meus pobres cadernos eu te amo como 
quem ma
                  ta como quem mo
                  rre como quem se
mata e se comove e como 
quem apenas escreve cu seu sangue 
acre
dita mulher de silêncio
                                           todos 
os meus versos sonham
cus teus olhos 
e sem o teu sorriso as minhas palavras 
se
     riam apenas labaredas lamechas 
e as minhas mãos
                                   apenas mãos a
penas 
             facas pregos pedras
3
estas mãos em vez de mãos
(são) facas estas palavras
em vez de palavras (são) pedras
quando a solidão aperta
as palavras enchem-nos a boca
de pregos e louco é este sangue
que derramo no caderno 
em que morrerei por vós
traído e abandonado
4
femme ma femme je voudrai t'écrire
dans ta bouche me lire
parce-que tes yeux me hantent 
et parce-que dans l'amour
tout peut nous arriver dans ce poème 
tout peut manquer sauf l'amour
cet oiseau d'eau dans l'os du mot mort
(ce sens du sang de cent mille malheurs)
et ce n'est pas la peine de me le dire
je sais ces verités sont maldites
l'ortographe est sans doute mauvaise
mais l'amour mon amour ma vie
ma poupée parfois s'écrit mâle-heurt
5
Não sei se é verdade mas escrevo
Porque isso é inútil
E porque isso é inútil vou viver
Até rebentar como um rato
Sim
Mesmo pondo em risco a própria razão
Amarei lentamente o que os outros destroem
Demasiado depressa
Agora que o meu desejo de escrever
É irremediável e definitivo
6
escrevo 
porque 
isso é 
impossível 
porque 
a poesia 
é sempre 
outra coisa 
porque 
a realidade 
não cabe 
em nenhuma 
imagem 
a morte 
mascara 
outra(s) 
mentira(s)
7
escrever e existir são uma mesma coisa
muito frágil
                      mente humana
                                                   a poesia é
precisa
               mente a consciência dessa frágil
idade impossível
8
As palavras que escrevo Não dizem exactamente
O que quero Nem eu sei exactamente Talvez
escrever Sem palavras que (macacos)
Me mordam se eu sei que Imagens
Não Quero Ver Quanto Sofro
a lutar com o silêncio
para que A morte No fim nem vale
a pena Falar daquilo Que nunca compreenderemos
9
Todos os poemas se pagam
(se apagam) com a vida
mais tarde ou mais cedo
todos
sem excepção
serão ESQUECIDOS 
por isso não saias para a luz 
a beleza está toda aqui
neste silêncio neste sonho onde
nenhuma palavra é (in)diferente
Vê lá se percebes: 
daqui ninguém escapa
sem ter escrito alguma coisa 
com
o seu próprio sangue.
10
Não só o teu amor, mas também o meu.
Não somente, sim, mas também o céu,
O eco do céu e do mar no nosso quarto.
Não apenas o nosso amor mas também
Os nossos corpos, juntos um do outro:
Tu no meio dos teus livros, a sonhar,
E eu aqui fechado como um segredo
Que só tu podes (dar a) conhecer.
Em homenagem ao Ramiro
Há 1 ano
 
 
"escrever e existir são uma mesma coisa
ResponderEliminarmuito frágil
mente humana
a poesia é
precisa
mente a consciência dessa frágil
idade impossível"
<3